Artigos 100% compatíveis com os retro computadores TK 90X e TK 95 da Microdigital e com a linha ZX Spectrum da Sinclair.

www.retroprogramacao.blogspot.com

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01/09/2019

O que leva um programador de nossos dias a desejar programar em micros considerados obsoletos?



Resolvi escrever este texto motivado pelo questionamento de um programador sobre o "sentido" de, nos nossos dias e com toda a atual tecnologia disponível, alguém querer programar em micros considerados obsoletos.

Pra começar, este é um blog de retro-programação e, obviamente, sempre justificará qualquer tipo de motivação neste sentido. Aqui, no bom e claro sentido, somos totalmente parciais (risos).
A própria existência do blog, para muitos, não faria o menor sentido.

Agora, voltando ao assunto, dificilmente a retro-programação despertará interesse nas novas gerações. Acredito até que ela tenha um prazo de validade determinado, limitando-se às lembranças daqueles que viveram a "época de ouro" da computação, onde tudo era novidade, num ambiente extremamente desafiador. Afinal, nada era fácil naquela época.
Salvo por aqueles que manterão o espírito de colecionadores herdados de seus pais e por iniciativas louváveis de doações para museus da informática, como tenho visto ocorrer nestes dias, o interesse por este assunto se dissipará como a brisa quando nossa geração deixar este mundo.
Vivemos numa sociedade extremamente consumista, sendo que a tecnologia é a que mais contribui para isso, deixando obsoleto em poucos meses aquilo que foi um caro e impressionante lançamento.
O que significa então, computadores extremamente limitados, de mais de 30 anos, nos dias atuais? Lixo, diriam alguns. Então o que significa colecionar e gastar tempo (principalmente programando) com estes "lixos"? Loucura, diriam outros. Afinal, "tempo é dinheiro" e, sob este olhar, eu já estaria perdendo meu precioso tempo e recursos escrevendo este artigo sobre um assunto que tende a morrer com o próprio tempo.
É... Pode parecer que já estou "detonando" com o tema do artigo nesta introdução, mas julguei necessário contextualizar primeiro a nossa realidade.

Tentarei agora esclarecer todos os questionamentos que expus acima, baseado na minha experiência pessoal e de meus colegas entusiastas, com quem tenho o prazer de trocar muitas informações.
Mas antes, é preciso distinguir dois perfis de pessoas que viveram esta fase dos micros do anos 80: Os usuários comuns, que curtiam os jogos e programavam por pura diversão, e os que tiveram sua inicialização na informática nestes micrinhos, seguindo posteriormente carreira de programador (sendo naturalmente seduzido pelas novas tecnologias com o passar dos anos). Estes últimos, na sua maioria, são os que menos se interessam pela retro-computação e são seduzidos pelo poder da novas tecnologias. As exceções, nos presenteiam com poderosas ferramentas de retro-desenvolvimento (a quem somos eternamente gratos).
Dentro destes cenários, alguns tem nestes computadores suas melhores lembranças de infância e juventude. Como que levados pela doce recordação de um cheiro, o contato com o antigos micrinhos traz uma sensação de extremo prazer. Neste caso, o ato de programar só completa a sensação.
A partir deste momento, temos uma peculiaridade interessante no ato de programar jogos ou qualquer outra coisa em máquinas como o ZX Spectrum: A facilidade com que isso pode ser feito nos nossos dias.
Ao contrário da nossa época, onde as ferramentas eram bem limitadas, onde as informações eram lentamente trocadas através de livros e revistas, e quase tudo era feito na "munheca", hoje é tudo muito simples, acessível e fácil. Temos ferramentas incríveis e podemos fazer coisas inimagináveis no passado (com o auxílio dos PC´s e da internet, é claro).
Talvez o sentido, motivação e prazer para muitos seja poder fazer hoje o que não se podia fazer na época, dado às limitações de equipamento e até do contexto de vida de cada um.
A exemplo do Basic Sinclair, que já era simples, hoje temos ferramentas que simplificam todo o processo de digitação (*) e análise dos programas, retornando em tempo real o resultado de cada linha de código. E olha que eu nem citei as ferramentas de criação e conversão de imagens, sons e games que são um show a parte! Sem complicação, sem necessidade de se reaprender uma nova linguagem (poucos tem tempo para isso) e, principalmente, sem ficar refém da obsolescência programada.

Mas tudo isso seria muito pouco diante do prazer de se ver num micrinho original, com todas as suas limitações de hardware, os programas rodando. Esta alegria não tem preço.

Quanto a "perda de tempo e dinheiro", podemos concluir que muitos com o nosso perfil, acima da meia idade (estou sendo generoso - risos), já podem se dar ao direito de administrar melhor o seu tempo e seus gastos, sem a pressão da família e do mercado de trabalho. E, se programar nestes micrinhos nos fazem felizes, como diria meu bom amigo doutor, é algo extremamente saudável e recomendado.   :)


(*) Vale destacar aqui iniciativas muito interessantes de projetos que, ainda em nossos dias, utilizam o bom e velho Basic Sinclair para despertar em jovens o gosto pela programação, utilizando-se de uma sofisticada plataforma de desenvolvimento. Pra quem não sabe, o famoso Basinc surgiu de iniciativas como estas.